Os seres humanos geralmente se orientam no mundo através de nossos cinco sentidos: visão, audição, paladar, olfato e tato. Contudo, estamos longe de possuir as habilidades de orientação de algumas espécies animais, como as aves, que têm a capacidade de perceber o campo magnético da Terra e utilizá-lo para se orientar durante seus voos migratórios.
Pesquisadores das Universidades de Oxford, no Reino Unido, e de Oldenburg, na Alemanha, têm acumulado evidências de que aves migratórias noturnas possuem uma proteína específica em suas retinas, que as auxilia na percepção dos campos magnéticos. Esse "sensor" é crucial para a sobrevivência dessas aves durante suas longas jornadas.
Historicamente, os humanos utilizavam bússolas para se localizar em caminhadas; atualmente, essa prática foi substituída por tecnologias como o GPS. No entanto, outros animais, incluindo as aves, realizam essa orientação de maneira muito mais intuitiva e natural.
Cientistas afirmam que algumas aves desenvolveram mecanismos internos extremamente sofisticados de geolocalização. “Nunca pensei que chegaríamos a um ponto em que começaríamos a entender os mecanismos quânticos que ocorrem dentro de um pássaro. Não sabemos exatamente o que o pássaro está vendo porque não podemos perguntar a ele”, afirmou Henrik Mouritsen, biólogo da Universidade de Oldenburg, durante uma entrevista ao podcast Nature em 2021.
O estudo de Mouritsen se concentrou nos tordos europeus, aves do gênero Turdus, que são nativas da Europa, Norte da África, Oriente Médio e Sibéria. Essas aves não apenas utilizam o campo magnético da Terra para navegar, mas também têm a capacidade de enxergar esse campo de uma forma única.
O Papel dos Criptocromos
A explicação para esse fenômeno envolve a física quântica. “Descobrimos criptocromos nos olhos das aves. O criptocromo 4 das aves migratórias é significativamente mais sensível a campos magnéticos do que a mesma molécula encontrada em galinhas”, explicou Katherine J. Wu, bióloga da Universidade de Harvard.
Os criptocromos são proteínas comuns em plantas e animais, atuando como fotorreceptores sensíveis à luz. O que não era conhecido até recentemente é que, além de regular o ritmo circadiano, essas proteínas também desempenham um papel crucial na navegação das aves.
A teoria atual sugere que, quando um fóton — uma partícula de luz — atinge o criptocromo da ave, sua energia pode perturbar as moléculas dentro da proteína. Essa perturbação resulta em um par de moléculas que se torna instável de tal forma que pode ser influenciado até mesmo por vibrações sutis do campo magnético da Terra, como descreve Wu.
Com a utilização dessa proteína, as retinas dos tordos são capazes de captar, em questão de microssegundos, o campo magnético ao seu redor, funcionando como um sofisticado sensor natural. Nos experimentos realizados, os pesquisadores isolaram as proteínas em laboratório e aplicaram campos magnéticos mais intensos do que o campo magnético terrestre.
Entretanto, ainda há muito a ser descoberto sobre o que exatamente ocorre nos olhos das aves durante esse processo fascinante de navegação.