O debate científico sobre o estado das correntes oceânicas no Oceano Atlântico tem ganhado destaque nas últimas décadas, especialmente no contexto das mudanças climáticas. Enquanto há um consenso crescente entre os especialistas de que correntes marítimas significativas no Atlântico deverão sofrer enfraquecimento nas próximas décadas, a questão sobre se já estão enfraquecendo atualmente permanece controversa.
Diversos estudos realizados nos últimos anos apontam para uma possível perda de força da Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (CMCA), enquanto um estudo recente sugere que esse sistema de correntes permanece estável desde 1960.
O Que Está em Jogo?
As correntes oceânicas, particularmente a CMCA, desempenham um papel crucial no clima global. Esta circulação envolve a Corrente do Golfo e se estende desde a Antártica até a Groenlândia, transportando calor para o Hemisfério Norte. O enfraquecimento dessa corrente poderia acarretar um resfriamento significativo no norte da Europa, além de impactar diversos padrões climáticos ao redor do mundo.
É importante notar que as observações diretas da força da CMCA são relativamente recentes, iniciando em 2004. Para avaliar o comportamento da corrente em períodos mais antigos, os pesquisadores dependem de “impressões digitais”, que incluem:
- Temperatura da superfície do mar
- Salinidade
- Altura da superfície
- Densidade da água
- Sedimentos marinhos
Esses dados podem gerar resultados variados, o que contribui para a incerteza em algumas pesquisas.
Estudo Recente e Seus Resultados
Uma pesquisa publicada em 15 de janeiro na revista científica Nature Communications trouxe à tona novas evidências sobre a estabilidade da CMCA. Os cientistas que conduziram o estudo utilizaram um modelo mais sensível às concentrações de gases do efeito estufa na atmosfera, em comparação com modelos anteriores.
Ao testar 24 modelos diferentes, os pesquisadores descobriram que a impressão digital mais utilizada — a temperatura da superfície do mar — apresentava uma correlação mais fraca com a CMCA do que se acreditava anteriormente. Como alternativa, foi empregado um novo indicador: o “fluxo de calor mar-ar”, que simula a troca de calor entre o oceano e a atmosfera. Segundo esse novo modelo, se a corrente estivesse enfraquecendo, haveria uma redução na transferência de calor do oceano para a atmosfera no Atlântico Norte.
Os resultados obtidos pelo estudo não indicaram um declínio na transferência de calor nas últimas seis décadas, sugerindo que a corrente oceânica continua estável.
Críticas e Defensores
Entretanto, as descobertas não passaram despercebidas e geraram críticas. Alguns pesquisadores apontaram que os modelos que simulam o fluxo mar-ar ainda dependem de dados observacionais, como temperatura e salinidade, o que implica que aproximações e lacunas nos dados poderiam comprometer a precisão das estimativas.
Os cientistas responsáveis pelo estudo reconheceram essas limitações, mas defenderam a confiabilidade dos resultados. Eles argumentam que os modelos mais recentes, devido à sua sensibilidade, oferecem uma visão mais acurada da dinâmica da CMCA, mesmo diante das incertezas.
Assim, a questão sobre o estado atual e futuro das correntes oceânicas do Atlântico continua em aberto, com a comunidade científica dividida e buscando novos dados e modelos que possam esclarecer essa importante questão climática.