Uma descoberta fascinante no campo da paleontologia revelou um pássaro com uma anatomia que combina características de aves modernas e ancestrais. Essa espécie, chamada Vegavis iaai, viveu na Antártica há aproximadamente 69 milhões de anos, durante os últimos períodos da era dos dinossauros. O estudo completo da ave foi publicado em 2025, após um longo processo de pesquisa que começou com a sua descoberta inicial há 20 anos por cientistas da Universidade do Texas.
Naquele momento, apenas os ossos do corpo do V. iaai haviam sido encontrados, sem o crânio, o que levou os pesquisadores a acreditar que se tratava de uma espécie de grou-coroado. Contudo, a época em que essa ave viveu, entre 62,9 milhões e 68,4 milhões de anos atrás, coincide com um período em que os grous eram bastante raros, gerando questionamentos sobre a evolução e classificação da espécie.
O Enigma do Pássaro Antigo
O paleontólogo Christopher Torres, da Universidade do Pacífico, destaca que poucas aves geraram tantas discussões no meio científico quanto o V. iaai. Em 2011, a solução para esse mistério começou a se desenhar quando o crânio da ave foi encontrado durante uma expedição do Projeto de Paleontologia da Península Antártica. Desde então, o crânio passou por uma série de estudos que culminaram em um modelo tridimensional quase completo do corpo do pássaro.
Esse modelo revelou que o V. iaai possuía um crânio típico de uma ave, confirmando que a espécie era aquática e uma parente próxima dos patos e gansos. No entanto, uma característica importante se destacou: seu bico era fino, pontudo e desprovido de dentes, com músculos mandíbulos bem desenvolvidos. Tal estrutura é comumente associada a mergulhões, aves que se especializam em mergulhos profundos para caçar, utilizando a força do bico para capturar suas presas.
Essas particularidades são incomuns em aves aquáticas como patos e gansos, que não mergulham tão profundamente. A descoberta do V. iaai é empolgante para os cientistas, principalmente pelo fato de que outras aves da mesma época, encontradas em diferentes partes do mundo, são frequentemente difíceis de classificar de acordo com os padrões atuais.
Além disso, muitos fósseis, como o V. iaai, estão tão incompletos que torna-se complicado determinar suas características precisas. Restos mais completos de espécies encontradas em lugares como Madagascar e Argentina pertencem a aves já extintas, com dentes e caudas longas e ossudas, que representam linhagens mais distantes das aves atuais. A descoberta de uma espécie mais semelhante às aves contemporâneas na Antártica é, portanto, um feito significativo.
Os cientistas acreditam que a Antártica pode ter revelado um padrão evolutivo distinto entre as aves, indicando que o continente guarda muitos segredos sobre os primeiros estágios da evolução dos pássaros que ainda precisam ser desvendados.
"A Antártica tem muito a ensinar sobre a evolução das aves e suas adaptações ao ambiente aquático," afirma Torres.