Descobertas em Marte: Rover Zhurong Revela Indícios de Antigas Praias

Descobertas em Marte: Rover Zhurong Revela Indícios de Antigas Praias

Parece que o Planeta Vermelho, que atualmente se apresenta como um ambiente frio, árido e inóspito, pode ter sido o lar de praias em tempos remotos. Essa intrigante possibilidade é respaldada por dados coletados pelo rover Zhurong, da China, que esteve em atividade em Marte entre 2021 e 2022, e que encontrou evidências de antigos litorais soterrados. Embora estudos prévios já tenham indicado a presença de rios e canais em Marte, a existência de oceanos no passado continua a ser um tema de intenso debate entre os cientistas.

Lançado em 2020, o Zhurong chegou a Marte no ano seguinte, 2021. “O rover foi enviado para explorar o sul de Utopia Planitia, uma região próxima a locais onde antigos litorais foram mapeados com base em dados de satélite”, explicou Benjamin Cardenas, coautor do estudo mais recente sobre essas descobertas.

Dentre as ferramentas embarcadas no rover, um radar de penetração no solo se destacou, permitindo a análise do que existe sob a superfície marciana. Após minuciosa avaliação dos dados obtidos, os pesquisadores identificaram camadas de rochas ocultas que apresentam uma estrutura análoga àquelas localizadas nas praias da Terra.

Essas formações, conhecidas como depósitos litorais, apresentam uma inclinação em direção ao que poderia ter sido um oceano. Tais estruturas se formam quando sedimentos são transportados pelas ondas e marés em direção a grandes corpos d'água. “Isso logo chamou nossa atenção, pois sugere que havia ondas, o que implica a existência de uma interface dinâmica entre água e ar”, comentou Cardenas.

Ao comparar os dados obtidos em Marte com imagens de radar de depósitos litorâneos na Terra, a equipe de pesquisa encontrou semelhanças notáveis. Por exemplo, os ângulos das formações em Marte são bastante semelhantes aos ângulos observados nos depósitos sedimentares dos litorais terrestres.

Os pesquisadores também notaram que a localização da suposta “praia marciana” parece ter mudado ao longo do tempo. Os dados indicaram várias formações se inclinando em direção ao norte, sugerindo que a área se expandiu. “Na verdade, ela se estendeu pelo menos 1,3 km em direção ao que seria o oceano”, observou Cardenas.

Para o coautor do estudo, os resultados têm implicações significativas. “É uma estrutura simples, mas ela nos diz que deveria haver marés, ondas e algum rio nas proximidades fornecendo sedimentos, e tudo isso teria que estar ativo por um período prolongado”, ressaltou.

Embora as estruturas inclinadas possam ser formadas por outros processos, a equipe acredita que nenhuma outra explicação se encaixa tão bem com os dados obtidos. Assim, a possível existência de uma praia em Marte pode oferecer novos insights sobre as condições do planeta em épocas passadas.

“Uma praia é uma interface entre água rasa, ar e terra”, destacou Cardenas. “Quando analisamos onde as primeiras formas de vida na Terra se desenvolveram, observamos que foi precisamente nessa interação entre oceanos e terra. Portanto, isso nos proporciona uma visão sobre antigos ambientes que poderiam ter sido habitáveis e que favoreciam condições propícias à vida microbiana”, concluiu.

Os resultados deste estudo foram publicados na revista Proceedings.