Os relógios biológicos são sistemas moleculares que permitem medir o envelhecimento biológico de indivíduos, um conceito que nem sempre se alinha à idade cronológica. Diversos fatores externos, como dieta, estresse, tabagismo, consumo de álcool e práticas de exercícios, podem deixar marcas em nosso genoma, afetando a forma como nossos genes se manifestam. Essas marcas são conhecidas como modificações epigenéticas e são utilizadas em modelos de aprendizado de máquina para criar biomarcadores chamados de relógios de envelhecimento epigenéticos.
Diferente da idade biológica tradicional, a idade epigenética reflete a metilação do DNA, um processo no qual enzimas atuam como "clipes", desligando partes específicas do nosso código genético. Um estudo recente, publicado na revista Frontiers in Aging, apresentou o CheekAge, um relógio epigenético inovador que consegue prever com precisão o risco de mortalidade, utilizando dados de metilação coletados de células da bochecha. O que diferencia o CheekAge de outros relógios mais sofisticados é que ele pode ser realizado no conforto do lar, com um simples swab.
CheekAge e a Epigenética
O CheekAge representa um avanço significativo entre os biomarcadores de última geração, sendo capaz de trabalhar com informações epigenéticas obtidas de amostras bucais para prever a idade biológica de um indivíduo e estimar de forma confiável seu risco de mortalidade. De acordo com o estudo, essa previsão é viável mesmo quando dados epigenéticos de outros tecidos são utilizados como referência.
Maxim Shokhirev, primeiro autor do artigo e líder em biologia computacional e ciência de dados da startup Tally Health, que desenvolveu o CheekAge, explicou ao Medical News Today que esse relógio epigenético está intimamente relacionado a fatores de estilo de vida, como qualidade do sono, prática de exercícios e consumo de álcool, além de condições de saúde, como infecções por COVID-19, tratamento de câncer e índice de massa corporal (IMC).
Testando a Previsão de Mortalidade do CheekAge
No estudo em questão, os pesquisadores se dedicaram a investigar se o CheekAge também poderia ser associado ao risco de mortalidade, utilizando um conjunto de dados de sangue obtido de um grupo de adultos mais velhos. Shokhirev esclareceu que o objetivo era determinar se um biomarcador treinado com células da bochecha poderia avaliar o risco de mortalidade em um banco de dados baseado em amostras de sangue.
Através de ferramentas computacionais desenvolvidas para análise estatística, Shokhirev e sua equipe avaliaram a precisão com que o modelo conseguia prever a mortalidade por qualquer causa em 1.513 homens e mulheres nascidos entre 1921 e 1936, que foram acompanhados ao longo de suas vidas pelo programa de pesquisa Lothian Birth Cohorts (LBC) da Universidade de Edimburgo, na Escócia. No âmbito do LBC, os pesquisadores buscavam entender as complexas interconexões entre o declínio ou a manutenção das capacidades cognitivas ao longo do tempo.
Esta pesquisa abre novos caminhos para a compreensão do envelhecimento e da expectativa de vida, mostrando como a ciência pode utilizar informações simples, como a coleta de células da bochecha, para prever aspectos tão significativos da saúde humana.